terça-feira, 17 de maio de 2011

UMA LIÇÃO DE VIDA




Certa vez fui comunicado pela equipe de enfermagem sobre a coleta de sangue que eu deveria realizar na pediatria do Pronto Socorro do Hospital e Maternidade Bom Jesus.  Como em todas as outras vezes, preparei minha maleta com o material necessário e me dirigi ao Pronto Socorro.  Lá chegando, fui surpreendido com a seguinte situação:
A criança que eu deveria colher seu sangue tinha cinco anos (quase a idade da minha filha, que tinha seis) e era portadora de leucemia.  O menino já estava fazendo uso de quimioterápicos, pois usava um boné para esconder sua carequinha.  Tive um certo receio em colher seu sangue, afinal seu acesso venoso seria quase inexistente (devido à quimioterapia) e ele deveria gritar e espernear bastante.  O menino, apesar da doença, estava bem serelepe; corria de um lado para o outro dentro do Pronto Socorro.  Deslizando entre as macas, enfermeiro, médicos, auxiliares de enfermagem, pacientes e suportes para soros, o menino corria feliz.  Pelo menos, até o momento em que eu tive que pará-lo para lhe comunicar sobre a coleta.  Peguei em sua delicada mãozinha e disse-lhe:
_ Oi filho, você deixa o tio colher o seu sanguinho?
Para minha surpresa e de todos os que presenciaram o momento, o pequeno e frágil guerreiro levantou seus pequeninos olhos em minha direção e sem uma palavra sequer, com apenas um sorriso, beijou minha mão.  Naquele mesmo instante, percebi que não sou ninguém e que aquele pequenino ser foi o meu melhor professor.
Com apenas um sorriso e um beijo, mostrou-me que a vida é uma troca de sentimentos, carinho, amor e solidariedade.  Sem estes sentimentos, por mais que o coração bata e o cérebro celebre suas descargas em milhões de neurônios, seremos carne sem alma e estaremos mortos aprisionados num corpo vivo.  
Mais importante do que estar vivo é sentir-se vivo.
Não sei o que aconteceu com aquela criança, não sei se ainda está vivo, somente sei que comecei a viver a partir deste dia.